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Livro “A Senhora de Maio” apresentado na Cova da Iria

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“Cem anos depois, ninguém é indiferente ao que aqui se passou e ao que aqui se passa. Fátima divide? Sim, divide. Sem, paradoxalmente, deixar de ser um factor de união e de identidade, ao mesmo tempo”. 

A afirmação é de Graças Poças Santos, professora do Instituto Politécnico de Leiria e autora do livro “Espiritualidade, Turismo e Território: estudo geográfico de Fátima”. A investigadora falava quinta à noite, em Fátima, durante a apresentação do livro “A Senhora de Maio – Todas as perguntas sobre Fátima” (Temas e Debates/Círculo de Leitores). 

A apresentação decorreu no auditório do Centro Missionário Allamano e nela participou também a historiadora Maria Inácia Rezola, que integrou a equipa da “Documentação Crítica de Fátima” e é autora do estudo “Sindicalismo Católico no Estado Novo”. Os autores do livro, António Marujo e Rui Paulo da Cruz, e a editora Guilhermina Gomes, estiveram igualmente presentes. 

Para Graça Poças Santos, os vinte e três testemunhos e entrevistas publicados na obra, têm diversos tópicos temáticos comuns, ainda que os depoimentos defendam perspetivas diferentes, algumas antagónicas.

Graça Poças Santos referiu vários dos temas e palavras-chave que atravessam a obra: a sacralidade e o magnetismo do lugar, a evolução urbanística e do fenómeno da peregrinação, a difusão e expansão do acontecimento das aparições, a acreditação da mensagem pela Igreja e as visitas papais, as viagens das imagens da Virgem Peregrina de Fátima, entre outros. 

“A leitura deste livro é útil para todos quantos se interessem por esta temática e procurem conhecer a diversidade de olhares que se projetam sobre Fátima”, sintetiza a investigadora.

Maria Inácia Rezola qualifica a publicação como “um projeto arrojado e corajoso”. “Trata-se de um projeto jornalístico, mas cívico e de cidadania responsável, (…), um livro que não tem a pretensão de ser um livro de História, mas de histórias, de testemunhos e, por isso, importante para a preservação da memória colectiva”. A investigadora destaca ainda a “pluralidade de olhares” e as “várias Fátima mostradas”: a antropológica, histórica, sociológica, pagã, peregrina, urbana, rural, económica, cultura, religiosa, entre outras.

A publicação inclui testemunhos contemporâneos dos acontecimentos de 1917 e vários documentos com valor histórico. Alguns depoimentos são de pessoas que entretanto já morreram e quatro são novos relativamente ao documentário televisivo "A Senhora de Maio", que deu origem à publicação escrita: Alfredo Teixeira, Carlos Cabecinhas, Carlos Azevedo e o escultor Robert Schad. 

Se os testemunhos das pessoas que já morreram “são peças únicas, que não mais se repetirão”, os novos depoimentos, considera Maria Inácia Rezola, permitem “atualizar e alargar o âmbito da obra relativamente à obra anterior”. Daí que se espera que o livro “ganhe dimensão à medida que os anos passam”,

Maria Inácia Rezola define o livro como "polémico e desafiante”, onde os entrevistados não fogem a falar de temas como a conversão da Rússia, o comércio em Fátima e a beatificação dos videntes Jacinta e Francisco Marto. 

Para os autores, ambos jornalistas, o primeiro afirmando-se católico e o outro ateu, o tema de Fátima é atrativo, independentemente do contexto individual de quem o estuda, reflete ou noticia.

“Propus [ao António Marujo] há quase vinte anos atrás, um tema com o qual não tinha sintonia própria, interior, mas que me despertava curiosidade”, recorda Rui Paulo da Cruz, para quem Fátima “é um facto histórico, algo aconteceu”.

António Marujo destacou o empenho colocado para que, entrevistado a entrevistado, nenhuma pergunta ficasse por fazer: “Procurámos, através da linguagem jornalística, o aprofundamento do que aqui se passou em Fátima, independentemente do ponto de partida”. 

Os depoimentos/entrevistas, que incluem alguns especialistas estrangeiros, são Alfredo Teixeira, António Matos Ferreira, Antonio Nitrola, Bento Domingues, Carlos Azevedo, Carlos Cabecinhas, Januário Torgal Ferreira, João Marto, José Saraiva Martins, Luciano Cristino, Luciano Guerra, Luís Kondor, Maria Belo, Maria Emília Santos, Maria do Rosário, Mário de Oliveira, Mihaly Szentmartoni, Moisés Espírito Santo, Paolo Molinari, Peter Knauer, Robert Schad, Salvador Cabral e Stefano de Fiores. O prefácio da obra é assinado por Lídia Jorge.
 
17 de fevereiro de 2017
Livro “A Senhora de Maio” apresentado na Cova da Iria Livro “A Senhora de Maio” apresentado na Cova da Iria