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A ENTREVISTA (DE)VIDA: António Gentil da Silva Martins

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António Gentil da Silva Martins é o convidado deste mês de janeiro da Associação dos Médicos Católicos Portugueses.

Nasceu na Lapa, em Lisboa, a 10 de julho de 1930.
No novo ano que agora começa e para o qual já tem objetivos bem definidos celebrará 89 anos de vida.
O professor Gentil Martins dedicou a sua vida profissional ao exercício da cirurgia, mas ficará na história da Medicina em Portugal como o cirurgião que realizou, há 40 anos atrás, a primeira operação de separação de siameses em Portugal, a que se seguiram muitas outras.
Entre as várias associações e instituições que integra, é o único membro de honra no mundo, além de fundador, das sociedades internacionais que trabalham nas áreas da Oncologia Pediátrica.
Nem todos lhe conhecem esta faceta, mas, a nível desportivo, foi atirador olímpico à pistola, em 1960, nos Jogos realizados em Roma.
Atualmente, reparte o seu tempo como consultor do IPOLFG; nas consultas na sua clínica particular, e com a sua família: esposa, oito filhos, 25 netos e mais um a caminho.
Por esta breve conversa, percebemos que continua bem atento à realidade social, económica e política do país e do mundo e que continua ativo no seu papel de médico e de cidadão.
Entre outras funções e feitos realizados, alguns das quais lhe valeram vários prémios e as mais altas distinções honoríficas, como a Grande Cruz do Infante D. Henrique, a Medalha de Ouro do Ministério da Saúde ou o Grande Colar da Direcção Geral da Saúde, terminou em final de 2018 funções como presidente do CAVT – Centro de Apoio a Vítimas de Tortura / Portugal, instituição de solidariedade social, da qual foi fundador e onde se mantém ligado como vice-presidente da direção.


Só perde quem desiste de lutar por aquilo em que acredita.
E eu não penso fazer isso!
A. Gentil Martins

1. Professor Gentil Martins, permita-nos que, ainda em início de novo ano, lhe peçamos para partilhar com a Associação dos Médicos Católicos Portugueses algum dos seus principais propósitos e objetivos para 2019.

Desejo manter todas as actuais atividades, nomeadamente procurando manter uma família unida, esclarecer dúvidas inclusive religiosas, ajudar na recuperação dos torturados (com o CAVITOP), cumprir o difícil mandamento de “amar o próximo como a si mesmo”, defender os valores olímpicos da solidariedade, verdade, jogo justo, e de dar sempre o meu melhor. Desejo ainda defender um Hospital Pediátrico autónomo em Lisboa e procurar alterar o modelo do nosso SNS.
Procurarei também seleccionar o que deve ser preservado para a família, eliminando tudo aquilo que ela só se poderá limitar a deitar para o lixo…

2. Como viveu o seu Natal?

Tentar juntar todos é difícil, nomeadamente por nesta altura ter dois filhos e múltiplos netos no estrangeiro.
Na véspera do Natal jantei com a parte possível da família e no dia de Natal fui à missa de manhã e à tarde reuni de novo com a família, o mais completa possível.

3. Profissionalmente, o que tem feito nos últimos tempos?

Reformado do Hospital de D. Estefânia e da Faculdade de Ciências Médicas, continuo como Consultor do Departamento de Oncologia da Criança e do Adolescente do IPOLFG - Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, que criei em 1960, então o primeiro no mundo associando as Pediatrias Médica e Cirúrgica.
Mantenho também o Consultório Privado, embora sobretudo para “segundas opiniões”, graças a Deus geralmente coincidentes. 

5. Arrepende-se de alguma coisa na sua vida?

Arrependo-me apenas de ter sacrificado a família, mulher e filhos, por uma excessiva dedicação à Ordem dos Médicos - três anos de luta após 1974 para a recuperar, mais nove anos como Presidente - que revolucionários mal orientados procuraram destruir, por não compreenderem que a Medicina tem de ser diferente, defendendo não apenas os profissionais, mas sobretudo as Pessoas, sãs ou doentes.
É fundamental procurar o difícil equilíbrio Medicina /Família, não sacrificando esta, como eu fiz.

6. Realizou muita cirurgia ao longo da sua vida profissional, mas ficará para sempre conhecido como o médico que procedeu à primeira separação de siameses em Portugal, em 1978. Quarenta anos volvidos, o que sente quando recorda essa operação? Medo? Alegria?

Alegria pelo êxito, mas preocupação antes, pois sabia que um passo errado podia representar a morte de uma criança e havia muito pouco sobre o assunto. Foi a operação para a qual mais trabalhei e que me demorou 12 horas.
A seguinte, quase igual, demorou menos de metade do tempo, pois já sabia como era...

5. Continua a contactar as pessoas que operou?

Tenho mantido contactos e em especial agora que se comemoraram os 40 anos. São pessoas tão normais como quaisquer outras. Infelizmente, hoje, nos países ditos civilizados, tendem, erradamente, a abortar todos os siameses...
Parece que não se entendeu o valor irrenunciável da vida humana, aliás previsto na Constituição Portuguesa…

6. Foi bastonário da Ordem dos Médicos entre 1977e 1986. Parece-lhe que as “lutas” por que passou quando era bastonário são menores ou maiores do que as do momento atual, que constatamos conturbado para exercício da Medicina e, consequentemente, para quem está doente?

As lutas são diferentes, mas igualmente graves e difíceis.
A realidade tem mostrado a degradação progressiva do Sistema actual, cada vez com mais diferenças - listas de espera, etc. - entre os que possuem mais poder financeiro e os que não têm condições económicas.
Mas os políticos continuam sem perceber (ou querer) que têm de mudar...
Quando fui Presidente da Associação Médica Mundial [de 1979 a 1983] tive o prazer de um encontro com o então Papa João Paulo II, que me marcou muito.
Continuarei a procurar que o Sistema de Saúde permita uma verdadeira liberdade de escolha, com base num Seguro Nacional de Saúde, de preços controlados, para o qual todos contribuam de acordo com as suas posses, para depois não desequilibrarem o orçamento familiar quando doentes e, por outro lado, que os profissionais sejam compensados pelo seu trabalho, esforço e qualidade.

7. Como antevê o futuro da Medicina em Portugal, um país em que, no final de 2018, quem legislou sobre vacinação foi o Parlamento, e isto a juntar aos temas relacionados com leis fraturantes como o aborto, a eutanásia, a PMA, etc.?

Estou seguro que terá de mudar, mas levará tempo até que essa necessidade se torne por demais evidente para a população, actualmente anestesiada pelo politicamente correcto e dominada por uma minoria activa em confronto com a passividade da maioria.
Perderam-se os valores e levará tempo a perceber ser indispensável recuperá-los. Felizmente o Código Deontológico da Ordem dos Médicos mantém a condenação do aborto e da eutanásia.
Dizia um antigo Ministro que, se queriam mais liberdade, não deviam ter destruído Deus, Pátria e Família. E ainda por cima terem-se limitado a uma liberdade mal compreendida e egoísta, cada um pensando apenas em si e não também nos outros.
Mas só perde quem desiste de lutar por aquilo em que acredita. E eu não penso fazer isso!

 

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